Segunda-Feira, 25 de fevereiro de 2013
A Floresta Amazônica passará por um minucioso mapeamento no segundo semestre deste ano na realização do Inventário Floresta Nacional (IFN). A iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) pretende reunir, até 2016, informações de cerca de 22 mil pontos amostrais de todos os Biomas brasileiros - Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal eCaatinga, além da Amazônia. A intenção é que as áreas sejam revisitadas a cada cinco anos e monitoradas de acordo com a evolução dos Recursos Florestais existentes, contribuindo assim para elaboração de políticas de uso e conservação das matas.
Apesar de ser um país reconhecido e admirado mundialmente pela extensa Biodiversidade, um inventário das Florestas no Brasil só foi feito uma vez, entre as décadas de 1970 e 1980, ainda assim, mapeando somente os recursos madeireiros disponíveis, seguindo uma tendência mundial que buscava alternativas energéticas para a crise do petróleo. Para o diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Joberto Veloso , no século 21, o foco é outro. "O inventário de hoje está voltado para a obtenção de dados como Desmatamento, degradação, usos e funções das Florestas, Biodiversidade e espécies em extinção", define Veloso.
Para fazer os registros em cada um dos 22 mil pontos de estudo, os profissionais contratados seguirão um manual elaborado pelo SFB, que determina a medição da altura e espessura dos troncos de árvores, coleta de amostras de cada espécie vegetal e do solo. Também serão realizadas entrevistas com moradores próximos às áreas pesquisadas.
Enquanto o SFB centralizará e consolidará os dados obtidos em campo, as amostras das plantas vão para diferentes herbários, responsáveis pelo trabalho de reconhecimento das espécies. Para controlar o uso da metodologia adotada, o inventário prevê parceria com universidades e institutos regionais, que farão uma segunda medição de cerca de 10% dos pontos, para efeito comparativo.
De acordo com Heron Martins, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente daAmazônia (Imazon), conhecer a floresta é fundamental para preservar os seus potenciais. "O principal inimigo das Florestas é o desconhecimento, que diminui o valor da floresta em pé, e ela passa a valer mais como tora de madeira. Com o inventário, ficará mais fácil evitar a construção de grandes obras, como estradas e usinas hidroelétricas, em áreas de importância biológica", afirma Martins, destacando que não é preciso esperar pelo inventário para preservar as Florestas. "O asfaltamento de uma grande rodovia, como a BR-163, torna diversas áreas acessíveis, e quando não há a presença do Estado, para fiscalizar, é mais fácil que outros atores cheguem, descumpram as leis e provoquem o Desmatamento", comenta o pesquisador.
Piloto - O Distrito Federal e Santa Catarina tiveram as Florestas mapeadas de forma piloto, ao longo dos dois últimos anos, para a avaliação da metodologia criada pelo SFB. Na capital do país, os primeiros resultados devem sair no primeiro semestre de 2013, enquanto os de Santa Catarina começaram a ser publicados durante o 63º Congresso Nacional de Botânica, em novembro de 2012. Na ocasião, foi celebrada a descoberta de uma nova espécie de bromélia.
O Herbário Dr. Roberto Miguel Klein, da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Santa Catarina, é um exemplo dos benefícios que o IFN poderá trazer. "O herbário pulou de 10 mil para 35 mil registros, e hoje conta com mais de 40 mil plantas, totalizando mais de quatro mil espécies distintas", comemora o curador, o professor André Luís de Gasper.
O professor pondera, entretanto, que o novo material será inútil sem a formação de taxonomistas - especialistas em identificação de espécies -, sem a manutenção e atualização dos sistemas informatizados e do material oriundo das Florestas. "Equipar os herbários e garantir que acidentes como os do Instituto Butantã, da Universidade de São Paulo, não aconteçam são fundamentais para a proteção deste tesouro", alerta Gasper. Em 2010, um incêndio comprometeu parte do coleção de mais de 70 mil serpentes e quase 500 mil aranhas e escorpiões.
Além do mapeamento e coleta, o IFN também analisará cerca de cinco mil pontos em todo o território nacional, por meio de imagens de satélites.
Ao serem cruzadas com os dados obtidos em solo, as informações permitirão a formação de um panorama vasto e inédito das Florestas brasileiras. "A repetição do inventário a cada cinco anos possibilitará a criação de séries temporais, que mostrarão tendências dentro dasFlorestas. Assim poderemos analisar os resultados de políticas que deram certo ou as que precisam ser implementadas", conclui Veloso.
Acesso por rodovia
O Programa de Aceleração de Crescimento (PAC2) tem atualmente 5.279 km de rodovias em obras de pavimentação ou construção, de acordo com balanço divulgado na semana passada, e a BR-163 responde por 978km do total. A estrada, que liga o Rio Grande do Sul a Santarém, no Pará, tinha um último trecho de terra, entre Guarantã do Norte, em Mato Grosso, e a cidade paraense. O balanço do PAC2 informa que 62% da obra de asfaltamento do trecho já está concluído, floresta amazônica adentro.
Desmatamento na Amazônia
A primeira região amazônica a ser mapeada pelo Inventário Floresta Nacional (IFN) é conhecida como Arco do Desmatamento, entre Pará, Rondônia e Mato Grosso. Os três estados respondem por 79% dos 35km² desmatados na Amazônia Legal em janeiro deste ano, de acordo com o Boletim do Desmatamento do Imazon. Nas medições realizadas entre agosto de 2012 e janeiro de 2013, as unidades da Federação foram responsáveis por 1.108km² de devastação, ou 86% do registrado na Amazônia Legal, e por 1.004km² de áreas degradadas, 96% do total.
A região, no entanto, não é a única que merece atenção. No período, foram registrados 156km² de Desmatamento no Amazonas, aumento de 192% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Para a realização do IFN, serão analisados sete mil pontos amostrais em toda a AmazôniaLegal, região correspondente a 59% do território nacional influenciados pela Bacia Amazônica e pela área de ocorrência da Floresta Amazônica. Em janeiro, o MMA firmou contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que destinou R$ 65 milhões para a etapa amazônica do IFN. A estimativa do Serviço Florestal Brasileiro é de que mais de cinco mil profissionais deverão trabalhar na realização do inventário em todo o país, até 2016, com custo previsto em R$ 150 milhões. Para a etapa no Cerrado, foram disponibilizados US$ 10 milhões pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Fonte: (Correio Braziliense)
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